Minha primeira paixão literária

 Ou o primeiro livro do qual fiquei enamorada.

(da importância de se dar livros divertidos, envolventes e agradáveis de ler para as crianças)


Foi o primeiro livro de mais de 20 páginas que eu li na minha vida. E me marcou para sempre. 

Literatura infantil de boa qualidade é como desenho animado, filme e tudo de bom que se produza para a criançada: agrada também aos adultos. Se não agrada, desconfie. É porcaria.

Eu tinha uma tarefa, não, uma missão: ler o livro nos trinta dias das férias e fazer um resumo. Determinada a (pelo menos) começar a desbravar aquela tarefa que me parecia hercúlea, aquele livro "grosso" - com mais de 100 páginas! - peguei o livro,  deitei na minha cama de bruços, com as pernas para o ar e comecei.

Só consegui parar quando cheguei no final, com dor nas costas e um baita torcicolo. Triste, mas somente porque o livro tinha acabado. Não era justo que uma história tão boa tivesse que acabar. Nunca tinha ficado tão vidrada antes por uma leitura. 

E, tal como uma menina que descobre o primeiro amor, achei que nunca mais ficaria novamente. 

Ainda bem que eu estava enganada. Assim como amores, bons livros abundam. Em quantidade maior do que sou capaz de devorá-los, os livros, lógico.

Já a segunda parte da tarefa (o malfadado resumo), eu não consegui realizar antes de o prazo estar estourando... 

Ano vai, ano vem, mudamos de casa muitas (muitas) vezes. Na primeira mudança, tive que me desfazer de alguns livros. Levamos para a biblioteca de Veleiros* uma picape com a caçamba cheia de livros. Mas guardei "O sofá estampado", tal qual uma jovem guarda num bauzinho secreto as primeiras cartas de amor. 

Vieram outras mudanças, e o livro seguiu firme no meu acervo. Fazendo as contas, vejo que está comigo há... quase quarenta anos!

O único outro que guardei da infância foi "Bento-que-bento-é-o-frade" da Ana Maria Machado. Me arrependo um pouco de não haver guardado "Pipi da meia comprida" e alguns da Stella Carr, mas penso nas crianças que freqüentam a biblioteca Malba Tahan (outro autor que merece menção!).

Gostaria de incluir no post algumas das ilustrações do livro, que tanto prazer somaram à própria narrativa...

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Procurei, procurei, procurei e não encontrei. Nem ilustração nem autoria delas. 
Quem foi que ilustrou a terceira edição do Livro "O sofá estampado", de Lygia Bojunga Nunes?
 
Nada de novo sob o sol. O autor, festejado. O ilustrador, ilustre anônimo. Nas edições seguintes, substituído. Descartado. Alguém são por aí poderia me dar uma explicação plausível do porquê disso? Inconformada. 
 
Vou ter que suprir esta lacuna. Assim que encontrar o livro (o meu está guardado!), vou digitalizar algumas ilustrações para você ver do que estou falando e reparar essa falha inestimável colocando os devidos créditos das ilustrações.

Depois de décadas, eu quis presentear com estes livros que tanta alegria me deram e... decepção! As ilustrações, a capa, tudo mudou. Não que não sejam boas, mas por que não manter as originais? Se o texto fosse mudado, eu estaria ouvindo os protestos aqui da minha casa, tenho certeza!
 
Incrível como fui seduzida por aquelas ilustrações. Tudo em preto-e-branco. Linhas. A ilustradora (tenho quase certeza de que era uma ilustradora) devia ser a mulher mais sexy do mundo, porque tinha o talento e o dom de sugerir, sem mostrar. De provocar, deixar o espectador querendo mais.
 
Todas as páginas com as margens totalmente desenhadas. Meu Deus, o que era aquilo? A história me engolindo e eu querendo virar mais e mais páginas para ver qual seria o desenho na margem da folha seguinte!
 
Muitos anos depois eu ainda tinha essa forte impressão na minha mente (parece até que era na minha retina). Cheguei a fazer diários com as margens totalmente preenchidas com desenhos, inspirada no livro. Diferentemente do raro exemplar, estes manuscritos não resistiram às devassas das mudanças de residência. 
 
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*hoje chamada Malba Tahan, mas tenho certeza que naquela época tinha outro nome
 

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